O Ceará é apenas uma das muitas peças – embora importantíssima, é fato – na tumultuada relação entre PT e PSB. Essa é, no momento, a principal narrativa política que se desenrola no Brasil. A situação no Estado está entrelaçada com o intrincado jogo de interesses nacional. Não que será totalmente determinada a partir de Brasília, muito menos que irá definir o que lá se desenrolará. Mas ambas se afetam mutuamente. Da capital cearense parte a pressão pelo rompimento. Do Palácio do Planalto os movimentos são na direção do acordo. No meio desse caminho, é difícil que ocorra a ruptura dos petistas com o governo do Ceará. Não apenas pelos interesses nacionais, mas pela própria correlação de forças local. A posição da prefeita Luizianne Lins, em defesa da oposição aberta, é minoritária. Todavia, a maioria dos principais caciques também não tem lá muita empolgação para manter a aliança. Tudo indica que preferem aguardar para ver como as coisas se acomodam. Tendem a empurrar a situação com a barriga até as portas das negociações para 2014. E é aí que a complicação aumenta.
OS RUMOS DA ALIANÇA PARA 2014
Será enorme surpresa se o PSB adotar qualquer postura que não o apoio à reeleição de Dilma Rousseff (PT). Assim, a pressão do PT nacional será pela unificação dos palanques no Estado – um dos dois mais importantes para o aliado. Não será a primeira vez se, ainda assim, saírem separados na disputa pelo Governo. Afinal, no atual ambiente, parece improvável conciliar todos na mesma coligação, após rancores e mágoas acumulados na última campanha. Por outro lado, o PT local deve saber que, caso decida pela candidatura própria, entrará numa aventura solo. Pela postura que se tornou praxe para o partido no Governo Federal, Dilma seguramente manterá distância regulamentar. É provável que nem o ex-presidente Lula participe. Isso em circunstância de enfrentamento contra o grupo político que, no Ceará, mostra-se quase todo-poderoso. Ou seja, o cenário para o petismo oposicionista não é dos mais promissores.
SIMBOLOGIAS
Qual o significado político, portanto, da rasgação de seda de Dilma em relação a Cid? Bom, a primeira coisa a considerar é que o programa educacional cearense é, realmente, um sucesso. Por isso parâmetro federal. Os elogios seriam justos mesmo que o governador fosse adversário da presidente. Porém, claro que o gesto guarda múltiplas simbologias. A primeira delas transcende a questão local. Depois de todas as eleições municipais, o Governo Federal precisa juntar os cacos dos inevitáveis atritos entre aliados. E nenhum saiu mais fortalecido que o PSB, apesar dos desencontros nos redutos dos principais expoentes da legenda: Recife e Fortaleza, além de Belo Horizonte. Nos três casos, os petistas perderam. Os resultados das urnas mostraram o PSB como maior vitorioso das disputas pelo País. É essa a sigla para quem Dilma dirige suas sinalizações. Na semana que se encerra, foram vários os afagos não só a Cid, mas também para Eduardo Campos. Este último o principal líder do partido. O primeiro, o contraponto ao governador pernambucano, cujo fortalecimento pode atender a estratégia calculada pelo Palácio do Planalto para conter o avanço do aliado. Por outro lado, há também as circunstâncias locais. Nesse caso, o comportamento de Dilma, da forma como foi - no dia seguinte ao movimento de Luizianne Lins para tentar levar o PT cearense para a oposição ao Governo do Estado - soa como afronta da presidente àquela que, até 1º de janeiro, permanece a prefeita da maior capital petista no País. Houve um tanto de inabilidade no episódio. Faltou cuidado para não fragilizar ainda mais quem sai derrotada de uma disputa absolutamente estratégica, mas permanece entre as principais referências do petismo. Dilma acabou jogando contra o próprio partido.
QUANTO VALE A ELEIÇÃO
Os oito candidatos que ficaram fora do segundo turno da disputa para a Prefeitura de Fortaleza declararam, juntos, despesas de R$ 5,7 milhões. À parte estranhezas, como Francisco Gonzaga (PSTU), que declarou não ter gasto um real sequer. Nem com programas de rádio e televisão. Nem com com gasolina para ir às caminhadas ele teve. Por sua vez, Roberto Cláudio (PSB) e Elmano de Freitas (PT), os mais votados no primeiro turno e que foram para a fase final da disputa, têm prazo extra para apresentar a prestação de contas final. Eles, até agora, só declararam as despesas referentes aos dois primeiros meses da campanha. E os números revelam bastante sobre a disputa eleitoral. Só em julho e agosto, Elmano informou ter gasto R$ 2,88 milhões. Ou seja, mais que os oito derrotados no primeiro turno, somados e com um mês de campanha a mais. E o que dizer de Roberto Cláudio que, também nos dois primeiros meses, já acumulava R$ 4,58 milhões em recursos aplicados?
Roberto Cláudio começou a eleição na sexta colocação. Elmano era o sétimo. Três meses depois, estavam nos dois primeiros lugares. O dinheiro fez a diferença.