DIRCEU: AGORA, REFORÇAR O MAIA. DEPOIS, A RUA


“A decisão do STF é contra a letra de qualquer livro de Direito Constitucional” – Pedro Serrano.

Em evento com Dirceu e Genoino, mas sem João Paulo, apoiadores de condenados afirmam que Corte ‘desrespeitou a Constituição’

ISADORA PERON, FERNANDO GALLO – O Estado de S.Paulo

No dia em que o Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento do mensalão, o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino evitaram ontem dar declarações à imprensa e preferiram ouvir manifestações públicas de aliados contra a decisão da Corte de determinar a perda de mandato de parlamentares condenados no processo, em evento em São Paulo. Também considerado culpado pelo STF, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) participaria do debate, mas não apareceu no Sindicato dos Engenheiros.

Aos jornalistas, Genoino afirmou que havia comparecido ao evento somente para ouvir. Hoje suplente de bancada do PT, o ex-presidente do partido terá direito a assumir uma cadeira em 2013. A decisão de ontem do STF impediria a posse de Genoino.

“Não posso comentar decisão do Supremo”, afirmou Dirceu. O ex-ministro disse que só voltaria a falar com a imprensa no ano que vem: “Depois do Natal, do ano-novo, das festas de fim de ano, vou dar muita entrevista. Vocês vão se cansar de me ouvir. Até lá, vou descansar”. 

Na saída, comentou com Ari Sérgio, militante petista: “Agora o importante é reforçar o Marco Maia e depois é ir para a rua”. Ele se referia ao presidente da Câmara, que se manifestou contrário a acatar a decisão do STF de barrar os mandatos dos parlamentares condenados.

Um dos temas que Dirceu pretende abordar daqui para frente é uso de dinheiro público no esquema de compra de apoio no Congresso no primeiro govenro Lula. Para os petistas, há provas de que os R$ 73,8 milhões do fundo Visanet foram usados em ações de publicidade. 

Ontem, Dirceu divulgou um cartão de Natal com o título Desesperar Jamais, em que disse ser “vítima inocente de um julgamento que, em muito pouco tempo, será citado em livros e em salas de aula como um exemplo a ser apagado da história de nosso direito”.

A frase segue raciocínio similar ao de participantes do debate de ontem. Professor de Direito da PUC-SP, Pedro Serrano criticou a perda de mandato dos deputados condenados. “A decisão do STF é contra a letra de qualquer livro de Direito Constitucional”

Serrano afirmou que o julgamento como um todo foi “uma catástrofe”. “Parece aqueles processos da era stalinista em que o sujeito entrava já sabendo o resultado”, disse. Em seguida, olhou para Dirceu e disse: “Desculpa, Zé”. A plateia riu. Na mesma mesa, o escritor Fernando Morais comentou: “Nossa esperança é que o parlamento resista a essa tentativa de usurpação de seus poderes”.

Lula. Outro participante, o ator José de Abreu, disse estar preocupado com “a volta da delação como um ato eticamente perfeito”, em referência à delação em que o empresário Marcos Valério disse ter pago despesas pessoais de Lula, como revelou o Estado. O ator usou a frase que desde a semana passada é replicada nas redes sociais e, ontem, foi cantada por integrantes da União da Juventude Socialista, ligada ao PC do B. “O presidente Lula não vai precisar sair do Instituto Lula. Quem vai defendê-lo somos nós! O Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo.”

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