"Há um silêncio abjeto que paira sobre este escândalo – exceto pela luta heroica e solitária dos bravos Davis da internet contra o Golias e seus amigos, ou cúmplices, se você quiser", diz o diretor do Diário do Centro do Mundo, Paulo Nogueira, ao comentar o caso de sonegação fiscal da Rede Globo"
247 - Há um escândalo por trás do escândalo de sonegação fiscal da Rede Globo na compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002, diz o jornalista Paulo Nogueira, diretor do Diário do Centro do Mundo. Leia:
Paulo Nogueira
É abjeto o silêncio
da mídia, dos políticos e do governo num caso tão extraordinário.
Futebol é um negócio
bilionário para a Globo
Existe um escândalo
dentro escândalo do caso Globo versus Receita Federal.
É a omissão da
mídia, dos políticos e do governo. Todos estão se fazendo de mortos, numa
cumplicidade mórbida, como se não estivesse ocorrendo nada.
A tarefa de lutar
por um Brasil melhor, neste caso, está limitada, até aqui, a esforços épicos de
blogues independentes.
Os fatos são
espetaculares.
Vejamos.
A Receita, como
primeiro noticiou o blog O Cafezinho, flagrou a Globo numa trapaça fiscal.
Documentos vazados por uma fonte da Receita mostram que a Globo tratou a compra
dos direitos da Copa de 2002 como se fosse um investimento no exterior para fugir
aos impostos brasileiros.
Isso se chama
sonegação. E sonegação é corrupção.
A empresa se
utilizou, na manobra, de um paraíso fiscal, recurso predileto de sonegadores no
mundo todo. Não à toa, os governos dos países adiantados decidiram impor
um cerco terminal aos paraísos fiscais, porque o dinheiro sonegado destrói a
saúde dos cofres públicos e impõe uma injustiça monstruosa à sociedade.
Em dinheiro de 2006,
a Globo devia 615 milhões de reais à Receita. Isso são seis vezes o que a Globo
definiu como o maior caso de corrupção da história do Brasil, o Mensalão.
Pressionada, a
Globo, depois de tergiversar, admitiu que tivera sim problemas com a Receita.
Mas jamais mostrou o darf, o recibo, para comprovar que acertara as contas.
Se o enredo já não
fosse sensacional, entrou depois em cena a notícia – confirmada – de que uma
funcionária da Receita tentara fazer desaparecer a documentação do caso.
Uma história fiscal
passou a ser policial também.
A funcionária
escapou da prisão graças a um habeas corpus de Gilmar Mendes. Para quem ela
trabalhara? Teoricamente, basta buscar na lista dos beneficiários de um
eventual sumiço.
Não são tantos
assim.
Estranhamente, ou
não estranhamente, pensando bem, a mídia corporativa – que tem exércitos de
repórteres – não fez o menor esforço para encontrar funcionária e tentar
esclarecer um caso de dimensões extraordinárias.
Isso atesta a
miséria do jornalismo investigativo nacional.
Cenas bizarras vão
aparecendo: um advogado da Globo disse não se recordar do caso, como se estivesse
falando da conta de um restaurante.
Um repórter do UOL
entrou no caso, provavelmente sem conhecimento dos donos, extraiu da Globo a
admissão da multa e sumiu exatamente no momento em que conseguira mostrar que
tinha uma grande história.
O UOL – da Folha,
sócia da Globo no jornal Valor – não deu mais nada. O mesmo comportamento teve
seu irmão, a Folha, que estampa na primeira página a informação de que é um
jornal a serviço do Brasil.
Sim, a serviço do
Brasil – mas desde que isso não signifique investigar a Globo.
Fora todos os fatos
comprovados, há especulações eletrizantes.
Exemplo: a justiça
suíça, ao denunciar no ano passado a rede de propinas comandada por João
Havelange e Ricardo Teixeira, denunciou a propina milionária paga num paraíso
fiscal para Havelange para que garantisse a uma emissora de televisão que a
Fifa venderia a ela, e não à concorrência, os direitos da Copa de 2002.
Quanto a Globo ganha
com futebol é uma enormidade: em 2012, foram vendidas seis cotas a
patrocinadores por 174 milhões cada. Isso dá mais de 1 bilhão de reais.
O tamanho do negócio
do futebol justificaria qualquer coisa?
Esta é uma das
questões que deveriam estar sendo discutidas publicamente, num regime de
transparência urgente, dado o torrencial interesse público do caso.
Mas não.
Há um silêncio
abjeto que paira sobre este escândalo – exceto pela luta heroica e solitária
dos bravos Davis da internet contra o Golias e seus amigos, ou cúmplices, se
você quiser.
Por: Brasil 247