Joaquim Barbosa não
conseguiu se fazer respeitar como juiz e terá poucas chances de se afirmar como
candidato, seja a presidente da República, seja ao governo de Minas Gerais; sem
o seu grande ato, que seria a prisão dos réus da Ação Penal 470, ele terá pouca
coisa a mostrar ao público; além disso, como magistrado, sua atuação será cada
vez mais contestada, como fez na edição deste domingo da Folha o jurista Ives
Gandra Martins; o justiceiro perdeu o "timing"
247 - Joaquim
Barbosa quase chegou lá. E não se pode dizer que não tenha tentado. O
"menino pobre que mudou o Brasil", segundo uma capa recente de Veja,
poderia ser hoje um dos nomes mais fortes da sucessão presidencial de 2014.
Poderia.
No entanto, a
realidade não lhe sorriu. Se os embargos infringentes não tivessem sido aceitos
por Celso de Mello na sessão da última quarta-feira do Supremo Tribunal
Federal, provavelmente José Dirceu e vários outros réus do chamado
"mensalão" teriam tido a prisão decretada por Joaquim Barbosa.
A capa de Veja deste
fim de semana, em vez de um obituário que retrata a morte da Justiça no Brasil,
seria mais um espetáculo com fogos de artifício e as fotos dos petistas
algemados e presos.
Agora, na melhor das
hipóteses para Joaquim Barbosa, isso só ocorrerá em meados de 2014.
Tarde demais para
que ele extraia dividendos políticos de sua atuação como juiz.
Assim que os
embargos foram chancelados por Celso de Mello, o presidente do Supremo Tribunal
Federal poderia ter tentado um outro grande gesto teatral: a renúncia à toga.
Não seria tão eficaz quanto a prisão, mas renderia alguns holofotes a mais e
alguns pontos que poderiam ser trabalhados na imagem de um presidenciável
justiceiro – BatBarbosa – disposto a corrigir de vez o Brasil.
Agora, a realidade
será bem mais dura. A fase dois da Ação Penal 470 permitirá que vários erros
sejam revistos. O relatório final de Joaquim Barbosa, seguido pela maioria dos
ministros do STF, será escarafunchado e contestado por vários juristas.
Este movimento teve
início neste fim de semana, com a entrevista bombástica do jurista Ives Gandra
Martins – um dos mais respeitados e menos petistas do País – à jornalista
Mônica Bergamo. Segundo ele, não há, nos autos, uma única prova contra José
Dirceu (leia mais aqui).
Da mesma forma,
alguns réus já se sentem mais à vontade para apontar falhas no processo. Foi o
que fez, em entrevista à jornalista Vera Rosa, o deputado João Paulo Cunha
(PT-SP) (leia mais aqui).
No depoimento, ele aproveitou para colocar o dedo na ferida do presidente do
STF, que é justamente seu viés político. "Se o ministro Joaquim Barbosa
quer disputar a opinião pública, que vá para Minas ou entre num partido aqui em
Brasília e dispute eleição", afirmou.
Efetivamente,
Joaquim Barbosa recebeu um convite do PSDB de Minas Gerais para disputar o
Palácio da Liberdade. Sobre as sondagens do Datafolha a respeito de eventual
candidatura presidencial, ele sempre se disse "lisonjeado".
Mas "o menino
pobre que mudou o Brasil" perdeu o "timing". Não conseguiu se
afirmar como juiz nem se viabilizar como candidato.