Máfia das próteses: médicos faturam até R$ 100 mil por mês

Esquema denunciado pelo Fantástico revela licitações superfaturadas de médicos com fornecedores de implantes e pedidos de cirurgia desnecessários para faturamento de comissões

A edição deste domingo do Fantástico, da TV Globo, mostrou uma reportagem especial sobre um esquema de corrupção envolvendo médicos e empresas que vendem próteses em todo o Brasil. O repórter do programa viajou por cinco Estados durante três meses e flagrou profissionais que recebem comissões ao escolherem determinadas marcas e até fazem cirurgias sem necessidade, apenas para ganhar comissão sobre o preço dos implantes. 

Uma testemunha que trabalhou durante 10 anos para quatro distribuidores no Rio Grande do Sul revelou o funcionamento do esquema da "máfia das próteses" ao programa. De acordo com ela, que não quis se identificar, é feito inicialmente um levantamento mensal em nome do médico com a quantidade de cirurgias que ele fez e quais materiais foram usados. Em seguida, as comissões - que vão de R$ 5 mil a R$ 100 mil - são calculadas. 

A investigação começou em um Congresso Internacional de Ortopedia realizado no Rio de Janeiro. Ali, fabricantes que exibiam seus lançamentos faziam propostas aos médicos interessados. É o caso da Oscar Iskin, da Totalmedic e da Life X. Para dar aparência de legalidade às comissões, algumas companhias pediam que eles assinassem contratos de consultoria - que, na realidade, nunca seriam prestadas. 

Esquema no SUS e nos Correios
Casos como esses também ocorrem dentro do Sistema Único de Saúde. De acordo com a reportagem, hospitais públicos conseguem fechar acordos superfaturados com fornecedores para manipular a concorrência e vencer licitações. 

Esquema semelhante, envolvendo comissões e orçamentos falsos, foi descoberto no plano de saúde dos Correios no Rio de Janeiro. Flagrado pela Polícia Federal, João Maurício Gomes da Silva, ex-assessor da Diretoria Regional dos Correios fez um acordo de delação premiada e contou detalhes do golpe - que alimentou uma fraude de pelo menos R$ 7 milhões. 

De acordo com ele, uma cirurgia de coluna que custou R$ 1 milhão ao plano dos Correios, por exemplo, poderia ter sido feita por "no máximo uns R$ 200 mil". Para justificar o preço de operações como essa, o médico cobrava por produtos que não eram usados.

“Ele multiplicava mil, duas mil vezes a necessidade dessa massa [usada para firmar os parafusos que fixam as prótese] com a ideia de que conseguiria justificar isso tecnicamente que o organismo absorvia essa massa”, explicou.

Cirurgias desnecessárias
O médico Alberto Kaemmerer, que durante 14 anos foi diretor de um grande hospital de Porto Alegre, ainda denunciou ao programa um golpe em que os médicos indicavam cirurgias desnecessárias aos pacientes apenas para lucrar mais. Este hospital precisou criar um grupo para revisar os pedidos de cirurgia e descobriu que pelo menos 35% deles costumavam ser rejeitados por falta de necessidade. 

De maneira semelhante, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, uma equipe revisou os pedidos de cirurgia de coluna encaminhados por um plano de saúde durante um ano. Resultado: de 1,1 mil pacientes, menos de 500 tiveram indicação cirúrgica. "Muito possivelmente, estava havendo um exagero em relação a essas indicações”, disse Cláudio Lottenberg, presidente do Hospital Albert Einstein. Terra
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