Depois de tirar do Planalto durante a reforma ministerial nomes ligados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Roussef enfrenta agora mais uma queda de braço interna no PT. Em entrevista publicada ontem pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, a ex-ministra da Cultura e senadora Marta Suplicy faz uma série de críticas a presidente e admite ter articulado a candidatura de Lula à Presidência no ano passado, em substituição a Dilma. As declarações geraram mal-estar entre os petistas, que classificaram a atitude como “mágoa”.
Fundadora do PT, Marta Suplicy afirmou que “ou o PT muda ou acaba” e emendou citando episódios em que o ex-presidente Lula também teria feito críticas a Dilma, nome indicado por ele para disputar a Presidência em 2010. Segundo a ex-ministra da Cultura, que pediu demissão do cargo em novembro do ano passado, Lula também gostaria de ter sido candidato em 2014, mas que o desejo não teria sido admitido a ela. “Nunca admitiu, mas decepava ela: ‘Não ouve, não adianta falar’”, declarou ao “Estadão”, afirmando inclusive ter organizado encontros com empresários para articular a troca de candidatos do PT.
Na análise de Marta, Lula teria desistido da disputa com Dilma para evitar um embate em que os dois sairiam derrotados. O nome do ex-presidente, no entanto, já é citado como o favorito dentro do PT para as eleições de 2018.
Inimigo. Depois de classificar a presidente Dilma como uma pessoa “que não sabe ouvir” nem reconhecer seus próprios erros, a petista voltou seus ataques ao atual ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, a quem chamou de “inimigo”. De acordo com a senadora, Mercadante articula a própria candidatura em 2018, mesmo com a campanha pelo “volta Lula”. Ela também declarou que a política econômica de Dilma é um “fracasso”, mas que os rumos não foram mudados para não fortalecer uma candidatura de Lula no ano passado.
Apesar de classificar o PT como um partido “cada vez mais isolado” e acusar lideranças da legenda de “alijar e cercear internamente” seus interesses, Marta evitou falar sobre uma desfiliação. “Cada vez que abro um jornal fico mais estarrecida. É esse o partido que ajudei a criar e fundar? Hoje, é um partido que sinto que não tenho mais nada a ver com suas estruturas”, disse, ressaltando já ter recebido o convite de outras siglas.
“A decisão não está tomada ainda, mas passei dois meses chorando, com uma tristeza profunda, me sentindo uma idiota. Não tomei a decisão nem de sair nem para qual partido, mas tenho portas abertas e convites”, disse Marta.
Independência
Indicação. A escolha da nova equipe econômica pela presidente Dilma foi elogiada por Marta Suplicy durante a entrevista. Ela acredita, porém, que não haverá independência para trabalhar nos cargos. Via: Folha de Minas