Charge do profeta Maomé ainda está gerando muita repercussão. Líderes islâmicos consideraram a capa uma provocação desnecessária.
Edição do Charlie Hebdo após ataque esgotou à medida que chegava às bancas francesas (Foto: Bertran Guay/AFP) |
A edição da quarta-feira (14) do Charlie Hebdo com a charge do profeta Maomé ainda está gerando muita repercussão. Representantes do Talibã, o grupo islâmico extremista que atua no Afeganistão condenou a capa com a imagem de Maomé, dizendo que os cartunistas são ‘inimigos da humanidade’. E ainda disseram que o atentado contra o jornal foi para fazer justiça.
O primeiro-ministro da Turquia também criticou o Charlie Hebdo, mas em outro tom. Disse que a liberdade de expressão não é liberdade de insultar. Líderes islâmicos de maneira geral consideraram a capa uma provocação desnecessária.
O secretário-geral da Organização para a Cooperação Islâmica, o saudita Iyad Amin Madani, achou que os cartunistas erraram na mão. Reclamou que ele e outros líderes que representam os muçulmanos marcharam em Paris contra os atentados e, que logo depois, surgiu mais uma capa com a imagem do profeta Maomé. “Isso é insolência, é ignorância”, ele reclamou.
Muitos líderes islâmicos disseram que a nova capa devia ser simplesmente ignorada. O chefe da diplomacia do Irã, no entanto, pediu respeito. "O mundo seria muito mais seguro se pudéssemos manter um diálogo sério sobre nossas diferenças", disse Mohammad Zarif.
O mufti Ekrima Sabri, uma das principais lideranças islâmicas de Jerusalém, disse à TV Globo que não se deve usar a liberdade de expressão para insultar nenhuma religião. "Ele é um profeta e pode perdoar. Mas os seres humanos podem não perdoar.”
O mufti disse que os cartuns são humilhantes para os muçulmanos, e que nem todos reagem da mesma forma. "Uma pessoa educada reage ao seu ódio de uma forma diferente de uma pessoa ignorante”, disse o religioso. "Eu aconselho os muçulmanos a buscarem sempre o diálogo em vez de qualquer outra atitude. E aconselho os cartunistas a pararem de fazer essas piadas."
O mufti quis mostrar aos não-muçulmanos que não é tão difícil respeitar uma restrição imposta pelo Islã. Ele disse que nós nos acostumamos com restrições à liberdade por respeito aos outros, como por exemplo, não fumar em lugares públicos. O líder religioso de Jerusalém perguntou então: “se para nós, islâmicos, é proibido e insultante fazer qualquer representação visual do profeta, por que o mundo não poderia respeitar?”.
Al-Qaeda do Iêmen reivindica atentado contra o 'Charlie Hebdo'
Vídeo divulgado nesta quarta diz que ataque ocorreu por insultos a Maomé. Organização terrorista diz que irmãos Kouachi foram direcionados a jornal.
Nasser bin Ali al-Ansi, do braço iemenita da Al-Qaeda, é visto em vídeo no qual a organização terrorista reivindica os atentados de Paris (Foto: Reprodução/Twitter/LeNouvelObs)
A Al-Qaeda do Iêmen reivindicou nesta quarta-feira (14) responsabilidade pelos ataques terroristas realizados em Paris na semana passada como vingança pelo insulto contra o profeta Maomé. A declaração consta em um vídeo divulgado pelo grupo.
Na mensagem, a organização terrorista diz que os autores dos ataques foram direcionados para o jornal “Charlie Hebdo”, que já havia publicado diversas charges do profeta Maomé. O atentado deixou 12 mortos no jornal. Outras cinco pessoas morreram em outros dois casos em Paris.
"Sobre a abençoada Batalha de Paris, nós, a Organização da Al-Qaeda Al Jihad na Península Arábica, assumimos a responsabilidade por essa operação como vingança pelo mensageiro de Deus", disse Nasser bin Ali al-Ansi, do braço iemenita da Al-Qaeda, na gravação.
"Fomos nós que escolhemos o alvo, financiamos a operação e recrutamos o chefe", declarou al-Ansi. "A operação foi realizada por ordem de nosso emir Ayman al-Zawahiri e de acordo com a vontade póstuma de Osama Bin Laden", acrescentou.
Os dois irmãos responsáveis pelo ataque contra o jornal satírico viajaram ao Iêmen via Omã em 2011 e receberam treinamento para uso de armas nos desertos de Marib, um reduto da Al Qaeda, segundo fontes iemenitas.
Foi a primeira vez em que autoridades locais confirmam que Cherif e Said Kouachi, responsáveis pelo mais sangrento ataque por militantes islâmicos contra alvos ocidentais dos últimos anos, visitaram o Iêmen, onde a ramificação mais perigosa da Al Qaeda, a Aqap, está sediada. Uma das fontes iemenitas havia confirmado anteriormente uma visita de Said Kouachi.
O ataque em Paris lançou atenções renovadas sobre a Aqap, que recentemente tem concentrado esforços no combate a inimigos internos, tais como as forças do governo e rebeldes xiitas, mas ainda tem como objetivo conduzir ataques em outros países - confirmadas agora pela organização.
Em afirmação à BFM-TV antes da sua morte, Cherif Kouachi disse ter sido financiado pelo pregador da Al Qaeda Anwar al Awlaki no Iêmen. "Fui enviado, eu, Cherif Kouachi, pela Al Qaeda do Iêmen. Eu fui lá e foi Anwar al Awlaki que me financiou", disse ele à BFM-TV por telefone. G1
Confira o vídeo:
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