Ainda dá tempo?

O Brasil vive um momento sombrio de extrema gravidade e Dilma tem de agir depressa para evitar o pior. 


O PSDB está a adubar a ideia do golpe via impeachment
A torre de babel, emblema de uma ciclópica confusão, vale como metáfora da situação do Brasil neste exato instante. Vejamos. O PT em frangalhos a amargar uma monumental derrota parlamentar que entrega ao PMDB o comando do Congresso, com risco imponente para a continuidade do governo de Dilma Rousseff. O PSDB de Fernando Henrique a adubar a ideia do golpe via impeachment. O ajuste fiscal em pleno andamento com a tola promessa de ser pequeno enquanto o desemprego cresce e a recessão bate às portas. A Petrobras em crise aguda enquanto o juiz Moro estende o raio de ação da Operação Lava Jato em busca do epicentro da corrupção além das fronteiras da empresa petrolífera, nas próprias entranhas do poder. A iminência do drástico racionamento da água em São Paulo, ao passo que outros pontos cruciais sofrem a ameaça de serem logo engolidos pela calamidade. E a crise energética próxima da eclosão.

No que diz respeito às perspectivas na maior metrópole brasileira, atingida pela falta d’água, talvez sirva recorrer, para figurá-las, o cenário de certos filmes de Hollywood que pretendem retratar um mundo do futuro a viver o colapso ao arrepio do sacrifício da vida civilizada. Nas trevas movem-se chusmas em andrajos e desespero, mata-se por um copo d’água, enquanto os ricaços vão tomar banho em Dubai. Sem insistir na versão hollywoodiana, observo que muitos não conseguem dar-se conta do que acontecerá quando, quatro dias por semana não haverá torneira para exibir serventia. Melhor evitar detalhes que infelizmente me ocorrem, a bem da boa digestão, ao menos por ora. Temo, de todo modo, pelas repercussões internacionais, nutridas por relatos apocalípticos, em detrimento de um Brasil em queda nas cotações mundiais.

A presidenta age tardiamente ao exonerar a diretoria da Petrobras em peso. De fato, poderia ter tomado a decisão logo após a eleição, de sorte a evitar um desgaste ulterior. Passado pouco mais de um mês desde a posse, o governo parece carregar nos ombros a maldição de um longo percurso medíocre, quando não francamente malsucedido. Houvesse uma pesquisa, e fácil imaginá-la negativa para a presidenta. De agora em diante, ela não pode mais errar e sua chance é de tempo curto e ação imediata.

É o prazo mínimo que lhe resta para mostrar a que veio e de garantir um lugar honroso na história do País. Há medidas que se impõem a partir de algumas considerações inescapáveis. Por exemplo, por que, para favorecer a exportação, seria indispensável elevar o câmbio do dólar? Onde está a divindade da economia que se abala a estabelecer a conveniência de se pagarem 3 reais por uma verdinha? Os problemas da exportação não decorrem da cotação da moeda americana e sim da falta de mercados para produtos brasileiros. Até a China passa por apertos em matéria de exportação dos seus produtos a preço ínfimo, até ontem açambarcadores de mercados.

Claro está que uma política de eficácia impensada poderia ser a de financiar países africanos, digamos, na compra de nossos produtos, ou para a realização de obras em seus territórios, e com isso ganhar a preciosa condição de credor. Mas há uma oportunidade escancarada oferecida pelo destino e pela natureza, conforme observa quem sabe das coisas. O Brasil tem a possibilidade de multiplicar o mercado interno, na esteira do que se deu durante o governo de Lula e nos começos do primeiro mandato de Dilma.

Trata-se de habilitar ao consumo as classes menos favorecidas por caminhos já percorridos pelo Bolsa Família e pela abertura do crédito, e, ao mesmo tempo, a favor do emprego, lançar planos de desenvolvimento, à sombra do PAC, ou novos em folha, para ampliar e melhorar a infraestrutura carente, como, de resto, demonstram as crises atuais. Se o Brasil não escapa à alternativa de crescer ou crescer, um projeto keynesiano há de ser posto em prática de pronto. Nada melhor se a presidenta o assumir sem hesitações, a sublinhar, talvez, sua importância vital com um discurso à Nação.

As iminentes consequências das crises hídrica e energética produzirão tensões inéditas e altamente daninhas, daí a urgência de uma reação vigorosa. Trata-se de corrigir a rota que leva ao desastre final, do qual, a esta altura, ninguém escaparia, os predadores e suas vítimas, os incompetentes irresponsáveis e o povo ignaro. Via CartaCapital
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