Apesar do clima de solenidade, parlamentares continuam se reunindo para formalizar os blocos partidários, negociar a composição da mesa diretora e conseguir votos de última hora para os candidatos
Dos 513 deputados federais, 198 estão debutando na Casa |
Brasília – “Aqui está a maior representação do povo brasileiro, a Câmara dos Deputados”. A frase do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), o mais veterano da casa e orador da ocasião, levou a aplausos e traduziu o que deveria ser o parlamento. Mas pouco convenceu, diante de uma composição considerada das mais conservadoras e marcada pela concentração de bancadas de cunho empresarial e evangélico da Casa, desde 1988 – segundo cientistas políticos. Isso não impediu, entretanto, que parlamentares, familiares, assessores e correligionários se aglomerassem pelo auditório Ulysses Guimarães, galerias e Salão Verde para acompanhar a cerimônia dos novos mandatos – que vão até 31 de dezembro de 2018.
Em meio a reverências feitas por Miro Teixeira a nomes famosos que já ocuparam as mesmas cadeiras, como Adauto Cardoso, Célio Borja, Ulysses Guimarães e Rubens Paiva (“que inacreditavelmente ainda está desaparecido”, ressalvou Teixeira), o clima foi de festa mas, ao mesmo tempo, de muitas conversas de bastidores. Tudo na tentativa de se definir a formação dos blocos parlamentares, a ser oficializada a partir das 13h30, e a presidência da Casa e dos integrantes das mesas diretoras, a partir das 18h.
A solenidade foi presidida por Teixeira por exigência regimental. Aos 74 anos, o deputado com mais tempo de legislatura federal dá início, hoje, ao seu 11º mandato. Os trabalhos começaram com 12 minutos de atrazo e por volta das 10h20, após a execução do Hino Nacional, Miro Teixeira convocou todos os deputados para fazerem o juramento de posse. O texto, lido no plenário Ulysses Guimarães, diz: "Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro e sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil". E foi marcada pelo destaque de vários parlamentares. O primeiro a ler o juramento de posse, de forma tímida, foi Abel Salvador Mesquita Júnior (PDT-RR), o “Abel das galinhas” em seu estado. O palhaço Tiririca (PR-SP) que, entrando no seu segundo mandato, chamou a atenção de crianças e pessoas de outros estados presentes ao evento com suas tiradas cômicas.
Reverências e emoção
Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que após atuar como senador e ter sido governador do seu estado por dois mandatos, este ano voltou à Câmara e foi bastante reverenciado pelos colegas. Também foram muito saudados representantes da chamada bancada dos trabalhadores, acompanhados por grupos de vários sindicatos que assistiram à solenidade, como Vicentinho (PT-SP) e Paulo Teixeira (PT-SP).
Da mesma forma, foi intenso o assédio ao jovem Uldurico Júnior (PTC-BA), que com 23 anos incompletos é o mais jovem deputado federal do país. “Estou me sentindo pronto para fazer um bom trabalho. Carrego uma trajetória de mais de 50 anos de mandatos na minha família, sempre gostei de política e quis dar continuidade a esta trajetória”, afirmou ele.
“Estamos prontos para cumprir com nosso dever constitucional e ajudar o governo na votação das matérias importantes para o país”, acentuou ainda Paulo Teixeira. "Estamos aqui para trabalhar e lutar pelos direitos dos trabalhadores", completou Vicentinho, que deixa esta semana a liderança do PT, ao ser perguntado sobre a desproporcionalidade entre as bancadas dos trabalhadores e do empresariado.
Como 198 deputados estão chegando pela primeira vez à Casa, foi comum o intenso movimento de transeuntes entre o Salão Verde e os gabinetes, porque muitos preferiram receber os convidados nos seus gabinetes.
Blocos partidários
Em meio às comemorações, a grande expectativa se dá, mesmo, em torno da consolidação dos blocos políticos que permitirão as negociações para a eleição da presidência e composição da mesa diretora. Eduardo Cunha formalizou o chamado "blocão", formado por 218 parlamentares, e composto por 14 partidos: PMDB (65), PP (38), PTB (25), DEM (21), PRB (21), SD (15), PSC (13), PHS (5), PTN (4), PMN (3), PRP (3), PEN (2), PSDC (2) e PRTB (1).
O segundo maior bloco, formado por 160 deputados, é integrado por PT (69), PSD (36), PR (34), Pros (11) e PCdoB (10), que apoiam a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP).
O grupo apoiador de Júlio Delgado tem 106 deputados do PSDB (54), PSB (34), PPS (10) e PV (8).
Com o encerramento do prazo de inscrições de blocos, cinco partidos permaneceram isolados: PDT (20), Psol (5), PTC (2), PSL (1) e PTdoB (1).
A eleição da Mesa Diretora, que é composta pela Presidência, duas vice-presidências, quatro secretarias e igual número de suplências, está marcada para as 18h.
São candidatos à presidência da Casa, além de Cunha, Arlindo Chinaglia (PT-SP), Delgado e Chico Alencar (Psol-RJ). A corrida por votos continua acirrada, em meio a reuniões e a presença de cabos eleitorais vestidos com camisetas dos candidatos – que ainda insistem em ficar na frente da Câmara, a exemplo de ontem.
Neste domingo, voltaram a ser mencionadas especulações de que, apesar da predominância de votos declarados para Eduardo Cunha, há possibilidade de haver um segundo turno da eleição – entre Cunha e Chinaglia. Caso isto aconteça, a eleição deverá entrar pela noite.