Da bbc:
Na semana passada, a Polícia Militar de São Paulo (PM-SP) divulgou que policiais não precisariam se recusar, durante o protesto marcado para o último domingo, a fazer fotos com manifestantes, um comportamento que chamou a atenção na primeira manifestação contra o governo federal, realizada em 15 de março.
Isso de fato ocorreu, e fotos de manifestantes com policiais voltaram a circular nas redes sociais. A novidade é que, desta vez, elas foram republicadas também pelos próprios perfis oficiais na PM-SP, junto com imagens de apoio à corporação escritas pelos autores das postagens originais.
“Nosso amigo Glauber disse: ‘Obrigado aos policiais militares de Sorocaba acompanhando os manifestantes de bem'”, disse a PM-SP em um dos posts.
Em outra publicação, a foto mostra um manifestante segurando um cartaz em que se lê: “Obrigado, Polícia Militar. Vocês são os anjos da guarda da sociedade. Nossos heróis anônimos”.
Um terceiro post traz uma foto de um policial com uma criança vestida com as cores da bandeira do Brasil e a mensagem: “Polícia e comunidades juntas para o bem comum”.
Os posts também destacam que o protesto na Avenida Paulista, na capital do Estado, foi “totalmente pacífico” e “sem incidentes”.
As postagens foram criticadas por alguns usuários das redes sociais.
“Perfil de instituição pública usado para fazer política. Isso não é correto”, diz um usuário do Twitter da Paraíba.
“Vocês não têm vergonha na cara? Foto ao lado de manifestantes é atestado de adesão”, afirma um internauta.
“Nunca vi vocês irem à favela e colocarem criança negra e pobre no colo”, afirmou outro usuário, de Brasília.
“Professores em greve na Paulista não recebem afagos da PM #doispesoseduasmedidas”, disse um segundo usuário.
Mas as postagens também suscitaram muitos elogios à Polícia Militar paulista.
“De novo, muito bom o trabalho da PM-SP. Parabéns à tropa!”, postou um usuário.
“A PM fez um trabalho incrível hoje, mais uma vez. E tem todo o meu apoio, respeito e gratidão!”, disse um internauta.
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Em nota, a PM-SP disse à BBC Brasil que a iniciativa das fotos partiu dos manifestantes e que a corporação adota a filosofia de polícia comunitária, “que consiste na proximidade com o cidadão e na sua participação efetiva na segurança”.
“As portas estão sempre abertas a quem quiser, de maneira respeitosa, interagir com os policiais. É evidente que se faz necessário avaliar cada situação. Neste caso, como não houve a necessidade de intervenção policial, cabendo ao efetivo atuar apenas na observação, de maneira preventiva, permitindo, assim, que momentos como esses fossem registrados”, afirmou a PM-SP.
Para o antropólogo Paulo Storani, ex-capitão do Bope (tropa de elite da PM do Rio), consultor de segurança pública e professor do Instituto de Políticas Públicas e Ciências Policiais da Universidade Cândido Mendes, a republicação de fotos de policiais com manifestantes vai ao encontro da estratégia de aproximação da corporação com a população civil.
“Assim como quando policiais cometem abusos, também é importante divulgar quando a polícia está junto aos cidadãos para protegê-los, cumprindo, assim, sua função social. Isso quebra uma barreira de desconfiança em relação ao policial e a visão de que a Polícia Militar é um ‘mal necessário'”, afirma o pesquisador.
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Por sua vez, Pablo Ortellado, professor de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo, acredita que a publicação das fotos de policiais e manifestantes pela PM-SP “demonstra uma relação de apoio à manifestação”.
“As fotos em si são o indício de uma questão maior: a abordagem amistosa feita pela polícia nestes dois protestos contra o governo federal, o que não acontece com protestos em prol de outras causas. Nas manifestações contra o aumento das passagens, realizada pelo Movimento Passe Livre (MPL) no início do ano, e mais recentemente contra a falta d’água, a corporação agiu de forma questionável”, afirma Ortellado.
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