Sejamos claros: A viagem de Bolsonaro a Nova York, para discursar pela terceira vez na abertura da Assembleia Geral da ONU, é uma inutilidade a serviço da desmoralização do Brasil. Ele desembarcou na cidade no domingo. Por determinação do serviço secreto americano, teve de entrar no hotel pela porta dos fundos para evitar contato com manifestantes que gritavam na entrada: "Fora, Bolsonaro." Saiu para comer à noite. Foi obrigado a mastigar pizza com auxiliares na calçada, pois apenas os vacinados têm acesso aos restaurantes nova-iorquinos.
Sejamos diretos: Sob Bolsonaro, a imagem do Brasil no estrangeiro tornou-se um borrão no qual se misturam o vexame sanitário, os arroubos antidemocráticos, a estagnação econômica e a destruição ambiental —não necessariamente nessa ordem. Bolsonaro realizou o pesadelo que frequentava os sonhos de Ernesto Araújo. O ex-chanceler dizia que se a atuação do governo bolsonarista faz do Brasil "um pária internacional, então que sejamos esse pária."
Por último, sejamos didáticos: Até aqui, em matéria de diplomacia, Bolsonaro fez o pior o melhor que pôde. Conseguiu desfazer a boa imagem do Brasil no estrangeiro. Para começar a refazer o que desfez, o presidente teria de conciliar duas necessidades conflitantes: ser Bolsonaro e preservar minimamente o interesse nacional. Mas as manifestações prévias reforçam a suspeita de que Bolsonaro e interesse nacional são mesmo dois elementos inconciliáveis.
O capitão já avisou que defenderá na ONU o chamado marco temporal, que limita a demarcação de terras indígenas às áreas ocupadas pelos índios em 1988. Ele alega que fala em nome do agronegócio. Na verdade, ecoa os interesses do ogronegócio, aquele pedaço de lavoura arcaico que invade, desmata e queima. Voar até Nova York para expor numa vitrine planetária posições retrógradas, que afugentam o capital estrangeiro, é uma variante nova do velho hábito de jogar dinheiro público pela janela. O brasileiro paga para passar vexame.