Setenta e seis anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, um ex-guarda de campo de concentração vai a julgamento por ter contribuído para o assassinato de 3.518 prisioneiros em Sachsenhausen, perto de Berlim, na Alemanha.
Identificado como Josef S, por causa das leis de privacidade alemãs, ele é acusado de ser cúmplice no fuzilamento de prisioneiros de guerra soviéticos e no assassinato de outros com gás.
A justiça alemã corre contra o tempo para julgar criminosos da era nazista — e ele é o réu mais velho a ser julgado até agora.
Somente nos últimos anos que os nazistas de baixa patente foram levados ao banco dos réus.
Há dez anos, a condenação do ex-guarda da SS John Demjanjuk abriu um precedente que permitiu aos promotores acusarem aqueles que contribuíram e foram cúmplices de crimes nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Até então, a participação direta no assassinato tinha que ser comprovada.
O réu Josef S foi conduzido nesta quinta-feira (07/10) a um ginásio esportivo especialmente adaptado em uma prisão na cidade de Brandenburg an der Havel, onde o julgamento começou em meio a um esquema de forte segurança.
Ele chegou em uma cadeira de rodas e segurando uma pasta.
Josef S vive na área de Brandemburgo há anos, supostamente como chaveiro, e não falou publicamente sobre o julgamento.
Seu advogado, Stefan Waterkamp, disse ao tribunal que o réu não faria comentários durante o julgamento sobre as acusações contra ele. Ele falaria, no entanto, sobre suas circunstâncias pessoais na audiência desta sexta-feira.
Josef S tinha 21 anos quando começou a trabalhar como guarda no campo de concentração de Sachsenhausen em 1942.
Agora, com quase 101 anos, ele é considerado capaz de comparecer ao tribunal por até duas horas e meia por dia.
A previsão é de que o julgamento continue até janeiro.
O promotor público Cyrill Klement falou perante a corte sobre os assassinatos sistemáticos que ocorreram em Sachsenhausen entre 1941 e 1945.
"O réu apoiou isso de forma consciente e voluntária — pelo menos ao cumprir conscienciosamente seu dever de guarda, que estava perfeitamente integrado ao regime de assassinato."
Dezenas de milhares de pessoas morreram no campo de Sachsenhausen, incluindo combatentes da resistência, judeus, adversários políticos, homossexuais e prisioneiros de guerra.
Uma câmara de gás foi instalada no complexo em 1943 — e 3 mil pessoas foram massacradas no campo quando a guerra se aproximava do fim porque estavam "incapazes de marchar".
O julgamento que começou nesta quinta-feira é especialmente importante para 17 coautores dos processos, incluindo sobreviventes de Sachsenhausen.
Christoffel Heijer tinha seis anos quando viu seu pai pela última vez: Johan Hendrik Heijer foi um dos 71 combatentes da resistência holandesa mortos a tiros no campo.
"Assassinato não é destino, não é um crime que pode ser legalmente apagado com o tempo", disse ele ao jornal Berliner Zeitung.
Aos 100 anos, Leon Schwarzenbaum, um sobrevivente de Sachsenhausen, disse que este era "o último julgamento para meus amigos e conhecidos e meus entes queridos que foram assassinados" — e ele disse que esperava que terminasse em uma condenação definitiva.
A maioria dos guardas do campo nazista não será julgada.
Havia 3 mil guardas no campo de concentração de Stutthof, na Polônia — e apenas 50 foram condenados.
No ano passado, o ex-guarda nazista Bruno Dey foi condenado por ser cúmplice no assassinato de mais de 5 mil prisioneiros. Ele foi condenado a dois anos de prisão, mas obteve suspensão condicional da pena.
Na semana passada, uma ex-secretária nazista do campo de Stutthof, Irmgard Furchner, de 96 anos, deveria comparecer ao tribunal para ser julgada no norte de Hamburgo, mas fugiu da casa de repouso horas antes. Ela acabou sendo capturada em Hamburgo, e seu julgamento foi remarcado para 19 de outubro. Ela foi liberada da custódia no início desta semana.