Leonardo Monteiro afirma só não ter apanhado mais porque colegas de imprensa começaram a gravar a violência.
O correspondente Leonardo Monteiro despertou a irritação de Bolsonaro em Roma. Foto: Reprodução/Twitter
Às 19h45 de domingo (31), a âncora Leila Sterenberg pediu ao correspondente Leonardo Monteiro para relatar o ataque covarde do qual foi vítima no lado de fora da embaixada do Brasil em Roma, quando fazia a cobertura da participação de Jair Bolsonaro no encontro do G20.
Baseado em Lisboa, Portugal, o repórter foi enviado à Itália especialmente para o evento. Estava credenciado e apto a fazer perguntas ao presidente. Ele disse que “seguranças truculentos” agiram contra a imprensa. “Um segurança ou policial italiano me imobilizou, me levou para um canto, me encostou num carro e deu um soco na minha barriga”, contou. “Que isso, tá maluco?”, disse Monteiro ao homem que o encurralou.
A violência poderia tê-lo deixado ainda mais machucado. Só não foi pior porque outros jornalistas testemunharam a ação e começaram a fotografar e filmar a agressão. “Foi um susto, fiquei com medo”, disse Leonardo, que estava acompanhado pelo repórter-cinematográfico André Miguel.
O agressor ainda não foi identificado. Ele agiu após Bolsonaro reagir mal a uma pergunta do correspondente. “Presidente, presidente! O cara tá empurrando... Presidente, por que o senhor não foi de manhã no evento do G20?”, questionou Leonardo.
“É a Globo? Você não tem vergonha na cara?”, disparou Bolsonaro. “Presidente, por que o senhor não foi de manhã nos eventos do G20?”, insistiu o repórter. “Vocês não têm vergonha na cara, rapaz”, respondeu o chefe de Estado brasileiro.
Pelo relato, ninguém da comitiva de Bolsonaro tentou conter a hostilidade contra a imprensa. Correspondentes de outros veículos também foram empurrados e ameaçados. Um deles teve o celular tomado de sua mão por um segurança e jogado na rua.
A Globo divulgou com um editorial. Leila Sterenberg leu um trecho ao vivo na GloboNews. “A Globo condena de forma veemente a agressão ao seu correspondente Leonardo Monteiro e a outros colegas em Roma e exige uma apuração completa de responsabilidades.”
O grupo de comunicação da família Marinho espera por uma punição a quem perdeu o controle. “Quem contratou os seguranças? Quem deu a eles a orientação para afastar jornalistas com o uso da força? Os responsáveis serão punidos? A Globo está buscando informações sobre os procedimentos necessários para solicitar uma investigação às autoridades italianas.”
“No momento, ficam o repúdio enfático, a irrestrita solidariedade a Leonardo Monteiro e demais colegas jornalistas de outros veículos e uma constatação: é a retórica beligerante do presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas que está na raiz desse tipo de ataque”, diz o comunicado.
“Essa retórica não impedirá o trabalho legítimo da imprensa. Perguntas continuarão a ser feitas, os atos do presidente continuarão a ser acompanhados e registrados. É o dever do jornalismo profissional. Mas essa retórica pode ter consequências ainda mais graves. E o responsável será o presidente.”
Foi a mais dura resposta do Grupo Globo a um ato de desrespeito à imprensa envolvendo Jair Bolsonaro. Os dois lados estão em guerra desde a campanha eleitoral de 2018. Ao longo desse tempo, equipes da Globo e GloboNews sofreram vários episódios de intimidação por apoiadores do presidente.
Bolsonaro lançou inúmeros ataques verbais contra a TV, principalmente xingamentos aos âncoras do ‘Jornal Nacional’, William Bonner e Renata Vasconcellos. Além disso, deu ‘avisos’ a respeito da renovação da concessão do canal, que vence em outubro de 2022. O clima que estava ruim deve ficar ainda pior após essa lamentável confusão diante da embaixada brasileira em Roma.