Mais uma perca para o país, o Brasil perdeu Elza Soares. Como muitos já devem ter visto nas diversas homenagens que ela recebeu, Elza teve que aprender cedo o que é a desigualdade. Obrigada a casar aos 12 anos, engravidou aos 13, perdeu filhos, sofreu violência doméstica, enfrentou a ditadura, teve que viver fora do país, pensou em desistir, continuou. Lutou contra o racismo e a violência contra a mulher. Foi referência para gerações. E, junto com tudo isso, foi a “voz do milênio”, como a definiu a BBC.
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Mas fez por Olavo de Carvalho, como você pode ver aqui. O guru do bolsonarismo, cuja morte foi informada nesta terça pela sua família, gerou não só condolências de toda a família Bolsonaro, mas também motivou a decretação de luto oficial no país.
Bolsonaro foi o presidente que menos assinou decretos desse tipo. Ele não fez isso quando 272 pessoas morreram no crime da Vale em Brumadinho, quando um acidente no Ninho do Urubu matou dez jovens nem quando mais de 600 mil brasileiros morreram pela pandemia de covid.
A seletividade no luto do presidente traz consigo a reflexão sobre como ele vê o cargo que ocupa. O luto do país não é o luto pessoal do presidente. As decisões de quem senta na cadeira no Palácio do Planalto não podem se pautar por motivações pessoais ou familiares, como fez Bolsonaro nesse decreto e como faz em tantos outros assuntos.
A separação entre o Estado e quem o representa veio com a República para garantir que o interesse público norteasse os governantes. Você sabe: na democracia, o poder emana do povo, que elege seus representantes, mas um representante eleito não tem poder absoluto. Além das leis e regras que devem ser seguidas, o norte deve ser sempre, em todas as decisões, o interesse do conjunto da população. Bolsonaro demonstra não ter entendido essa lógica e segue governando o país pensando no que mais convém a sua família.