Liderados por Yellen, ministros abandonam reunião do G20 após intervenção russa

A reunião era a portas fechadas, em paralelo ao encontro anual de primavera (no Hemisfério Norte) do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, em Washington, nos Estados Unidos, mas a Rússia provocou uma nova rebelião ministerial durante o encontro do G20, grupo que reúne as 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes mais a União Europeia. A reunião desta quarta-feira (20/4) deu o que falar ao gerar um protesto contra a Rússia, do qual o Brasil não participou.

(crédito: ANDREAS SOLARO/AFP)

Liderados pela secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, ministros da Fazenda e presidentes dos Bancos Centrais de países europeus e do Ocidente abandonaram a reunião do G20 em protesto à guerra na Ucrânia assim que o representante da Rússia iniciou uma intervenção que repercutiu nas agências internacionais. Yellen levantou-se e retirou-se da sala após o início da fala de um representante da Rússia.

Os representantes brasileiros, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, contudo, permaneceram na reunião e cumpriram suas agendas, de acordo com as suas respectivas assessorias. Os dois estão em Washington para acompanhar as reuniões ministeriais do FMI e do Banco Mundial.

"As democracias do mundo não ficarão de braços cruzados diante da contínua agressão russa e dos crimes de guerra. Hoje, o Canadá e vários de nossos parceiros democráticos saíram do plenário do G20 quando a Rússia tentou intervir", escreveu a ministra das Finanças do Canadá, Chrystia Freeland, em seu perfil no Twitter.  

Freeland postou uma foto de autoridades que deixaram a reunião, incluindo Yellen, o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Jerome Powell, e a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde.

Antes da reunião ministerial, autoridades dos EUA disseram que Yellen não participaria de certas sessões da reunião que incluíam a Rússia, informou o site da CNN. A rede de tevê norte-americana destacou ainda que a retirada das autoridades ocorreu justamente quando o ministro das Finanças russo, Anton Siluanov, começou a falar virtualmente no encontro do G20.

Embora o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tenha dito que a Rússia não deveria mais estar no G20, expulsar Moscou exigiria o apoio de todos os membros. Isso é considerado improvável, já que a China disse que não apoiaria a expulsão da Rússia.

Ontem, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse, em apresentação virtual do think tank CSIS, que o Brasil é contra uma expulsão da Rússia do FMI e ainda declarou que, apesar de ter condenado a invasão da Ucrânia pelos russos, o governo brasileiro é contra a aplicação de sanções a Moscou. 

Previsões revisadas

Os organismos multilaterais revisaram para baixo as previsões de crescimento global neste ano. O FMI, por exemplo, reduziu de 4,4% para 3,6% a previsão de avanço do Produto Interno Bruto (PIB) mundial neste ano, por conta da guerra na Ucrânia e dos novos bloqueios na China por conta da covid-19. 

Na contramão, o Fundo elevou de 0,3% para 0,5% a previsão de crescimento do PIB brasileiro neste ano, em grande parte, devido à perspectiva melhor para as exportações de commodities, já que o Brasil é um grande produtor de alimentos e os preços dispararam por conta da guerra na Ucrânia.   

Silvio Campos Neto, sócio da Tendências, lembrou que o Brasil continua crescendo menos do que o mundo, apesar da melhora das previsões do FMI. Ele ressaltou que as revisões para baixo para o crescimento do PIB global de economias importantes, como Estados Unidos e China, são relevantes e acendem um sinal de alerta de que o Fundo pode continuar reduzindo as estimativas.

“O Fundo reduziu de 4,8% para 4,4% a previsão de crescimento do PIB da China, taxa bem abaixo da meta de crescimento do governo chinês, de 5,5%, deixando o contexto bastante desafiador para a economia chinesa e para a economia global”, alertou. “O risco de desaceleração da China é mais forte e, a curto prazo, a inflação ainda pode continuar afetando as expectativas. Por conta disso, há uma série de razões para o mundo ficar mais cauteloso”, emendou Campos Neto.

Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, o Brasil continuará crescendo pouco porque não consegue fazer os ajustes necessários para reequilibrar as contas públicas. “O Brasil cresce pouco e, em crises como as atuais, apanha mais, porque não faz a lição de casa”, afirmou ele, lembrando que a consolidação fiscal apontada pela equipe econômica é apenas discurso e não condiz com a realidade.

“A inflação e receitas extraordinárias decorrentes da alta dos preços do petróleo, principalmente, têm ajudado o governo a fazer ajustes apenas do lado da receita e não pelas despesas”, lamentou.

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Correio Brasiliense

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