Estudos apresentados no dia abertura do encontro grandes empresários na Suíça apontam para crescimento da desigualdade
Redação / Brasil de Fato | Curitiba (PR)
Dois estudos apresentados nesta segunda-feira (23), dia da abertura do Fórum Econômico Mundial, alertam para o aumento recorde da desigualdade social e para uma possível falta de alimentos relacionada à pandemia e à guerra entre Rússia e Ucrânia.
Destinado aos ricos, o Fórum Econômico Mundial é reconhecido por reunir os principais líderes empresariais do mundo em Davos, na Suíça. Neste ano, o ministro da Economia, Paulo Guedes, representa o governo brasileiro no evento, que termina na quinta (26).
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Aproveitando o início do fórum, a ONG Oxfam divulgou na manhã desta segunda o relatório “Lucrando com a Dor”, que aponta como os bilionários do mundo ficaram ainda mais ricos ganhando dinheiro com os problemas enfrentados pela população pobre na pandemia.
“A riqueza dos bilionários teve alta recorde durante a pandemia de covid-19 à medida que as empresas dos setores alimentício, farmacêutico, energia e tecnologia lucraram”, diz o texto de apresentação do documento. O relatório apresenta dados alarmantes sobre desigualdade.
Segundo a Oxfam, na pandemia, um bilionário surgiu no mundo a cada 30 horas – foram 573 desde 2020, ano em que a OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou a emergência sanitária. Enquanto isso, também a cada 30 horas, 1 milhão de pessoas caíram na extrema pobreza.
Hoje, existem no mundo 2.668 bilionários. Eles possuem juntos US$ 12,7 trilhões (R$ 61 trilhões), o equivalente a 13,9% do Produto Interno Bruto (PIB) anual de todos os países do globo. O patrimônio dos bilionários, aliás, cresceu 42% durante a pandemia.
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Já a renda de 99% das pessoas caiu durante a crise da covid, de acordo com a Oxfam. Isso ocorreu porque 125 milhões de pessoas perderam seus empregos formais desde 2020.
“A riqueza bilionária e os lucros corporativos cresceram vertiginosamente, atingindo níveis recordes durante a pandemia, enquanto mais de 250 milhões de pessoas correm o risco de caírem na extrema pobreza, em 2022”, comparou o relatório da Oxfam, organização que tem 3.000 parceiros e atua em 90 países.
Campeões de lucro
O relatório cita dados dos setores que mais lucraram com a pandemia e colaboraram para o crescimento da desigualdade. Só o setor farmacêutico, que produz as vacinas contra a covid-19, ganhou 40 novos bilionários desde 2020.
“Os gigantes farmacêuticos estão lucrando mais de US$ 1 mil por segundo somente com vacina, e cobrando dos governos até 24 vezes mais do que custaria produzir vacinas de forma genérica”, diz o documento.
A Oxfam também trata dos lucros das empresas de tecnologia e de energia. “A margem de lucro das grandes petrolíferas dobrou durante a pandemia. O preço da energia teve o maior aumento desde 1973.”
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O texto ainda apontou para o crescimento de lucros de empresas do ramo de produção e venda de alimentos, impulsionado pela alta de preços. Destacou que a comida teve um aumento de 33,6% em 2021, e deve aumentar 23% neste ano.
“A Oxfam estima que 263 milhões de pessoas podem ser levadas a níveis extremos de pobreza este ano por causa da covid-19, do aumento da desigualdade global e do impacto da subida dos preços dos alimentos, sobrecarregados ainda mais pela guerra na Ucrânia.”
Efeito guerra
Outro estudo apresentado nesta segunda-feira trata exclusivamente do efeito da guerra entre Rússia e Ucrânia sobre o preço e a distribuição de alimentos. Neste caso, o documento foi produzido pelo próprio Fórum Econômico Mundial com base em pesquisa com economistas-chefes de 24 dos maiores bancos do mundo.
Segundo eles, a guerra desestabilizou a produção e logística do setor. Por isso, há risco de faltar alimentos em algumas partes do mundo, o que tende a elevar os preços.
De acordo com relatório do fórum, em 2020, 36 países compraram mais da metade do trigo que eles importam anualmente da Rússia ou Ucrânia, países em guerra desde fevereiro e que têm hoje dificuldades de exportar sua produção.
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O relatório cita também a escassez mundial de fertilizantes, que também são produzidos na Rússia e Ucrânia. Diz que isso pode afetar a produção de soja no Brasil e, por consequência, a produção de carne da China, que depende da soja para alimentar animais.
Conforme o Brasil de Fato já mostrou, o fechamento de três fábricas de fertilizantes da Petrobras durante os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) aumentou a dependência do Brasil em relação aos adubos vindos da Rússia. O país governado por Vladimir Putin é de onde vem 23% da importação desse tipo de produto.
Dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) tabulados pela consultoria StoneX indicavam que, ainda em 2020, cerca de 84% dos fertilizantes usados por agricultores brasileiros já eram importados. Esse percentual de importação é o maior já registrado em mais de 20 anos – e deve aumentar.
Edição: Felipe Mendes