Levantamento intensifica estratégia petista em direção ao centro e mostra que nem mesmo 7 de setembro trouxe o que o presidente queria
Por Clarissa Oliveira
Ao mostrar mais uma vez a estabilidade da corrida presidencial, a nova pesquisa Ipec, divulgada na noite de ontem, validou a estratégia desenhada pelo time do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O levantamento veio a público com margem suficiente para de fato medir os efeitos do 7 de setembro. E mostrou aquilo pelo que a equipe de campanha petista vinha torcendo: nem os atos da Independência, bancados em grande parte com dinheiro público, bastaram para inaugurar uma tendência de alta do presidente Jair Bolsonaro.
Até o fim da semana passada, a campanha petista não escondia a preocupação com o tamanho da mobilização alcançada nas manifestações. Aliados de primeira hora do ex-presidente diziam em reservado que que era preciso aguardar um pouco mais para ver o impacto no voto dos indecisos. Mesmo que a pesquisa Datafolha divulgada no fim da semana já apontasse para essa estabilidade.
Bolsonaro errou, na visão de petistas, ao falar mais uma vez para sua bolha. Ele até tentou amenizar o discurso, evitou ataques tão ferrenhos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao sistema eleitoral. Mas no fim do dia Bolsonaro foi Bolsonaro. Puxou o coro de imbrochável, fez piadas misóginas propondo uma comparação de primeiras-damas. Talvez tivesse tido mais resultado se tivesse se limitado a chamar Lula de quadrilheiro e falar sobre corrupção, na avaliação de líderes petistas.
Mais do que mostrar uma oscilação positiva de Lula de 2 pontos para cima – atingindo 46% das intenções de voto contra 31% das intenções de voto para Bolsonaro –, a pesquisa ainda põe o petista no limite necessário para ganhar no primeiro turno. Ele tem 51% dos votos válidos, segundo o levantamento.
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O tempo agora é curto para Bolsonaro e há pouca clareza sobre quais cartadas ainda restam ao presidente. Já se foram o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, a queda forçada do preço dos combustíveis e o 7 de setembro. Agora, a estratégia petista é reforçar o plano desenhado lá atrás. Apostar alto no voto útil contra o presidente.
Lula conseguiu mais um trunfo ontem nessa direção, ao selar o apoio da ex-senadora Marina Silva. A entrada de Marina na campanha de Lula não é em nada desprezível quando se trata de buscar o eleitor de centro. Mesmo tendo saído pequena da última eleição presidencial, Marina é grande em simbologia. É uma figura muito conhecida do eleitorado brasileiro, tanto quanto o vice Geraldo Alckmin, por exemplo.
Marina tem prestígio nacional e internacional. E ainda por cima é alguém que rompeu com Lula por discordar dos métodos do PT. E que agora retorna para a base do ex-presidente. Tudo em nome do que ela própria descreve como uma missão: derrotar o bolsonarismo.