Ao menos 26% da população mundial não tem acesso à água potável e cerca de 46% também não possui saneamento. Tema é destaque em conferência da ONU neste Dia Mundial da Água. Pesquisa mostra papel do Brasil no aumento da geração de plásticos
Por Clara Assunção | RBA
O documento da ONU adverte sobre o "caminho perigoso" que as sociedades estão seguindo, "de excesso de consumo e desenvolvimento vampírico"
São Paulo – A Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a Água com início, nesta quarta-feira (22), Dia Mundial da Água, com o alerta da entidade para o “risco iminente” de uma crise global de escassez desse bem, devido ao consumo excessivo e às mudanças climáticas. De acordo com Relatório da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em parceria com a ONU Água, divulgado na abertura do evento, em Nova York, atualmente entre 2 bilhões e 3 bilhões de pessoas já sofrem com a falta do recurso hídrico por pelo menos um mês do ano.
E a projeção indica que essa população pode dobrar. Em 2016, eram 930 milhões de pessoas sofrendo com a escassez. A estimativa é que esse número fique entre 1,7 bilhão a 2,4 bilhões até 2050. O documento adverte sobre o “caminho perigoso” que as sociedades estão seguindo, “de excesso de consumo e desenvolvimento vampírico”. Além disso, o levantamento também revela que em um planeta com 8 bilhões de habitantes, 26% da população global não tem acesso à água potável. O que equivale a 2 bilhões de pessoas.
Cerca de 46% dos habitantes do planeta também não possuem serviços de saneamento seguros, ou 3,6 bilhões. Assim, a ONU chama atenção para os desafios impostos pelas mudanças climáticas, com a incidência de “secas extremas e prolongadas”, que também afetam os ecossistemas. Para a organização, é urgente estabelecer mecanismos internacionais fortes para evitar que a crise global da água saia de controle”. “A água é o nosso futuro comum e é essencial agir para partilhar equitativamente e gerir de forma sustentável”, destaca o relatório.
Conferência sobre a água
A cooperação é destaque na conferência que teve início nesta quarta e segue até sexta (24). Esse é considerado o principal encontro sobre a água em mais de uma década e reúne 12 chefes de Estado e de Governo, 80 ministros e altos funcionários governamentais e mais de 6,5 mil representantes de organizações sociais e ativistas que vão debater propostas e soluções para alcançar objetivos e metas para a sustentabilidade da água.
O tema dos recursos hídricos cada vez mais motiva disputas geopolíticas ao redor do mundo e, de acordo com um dos autores do documento da Unesco, Richard Connor, “se não resolvermos isso, vai haver definitivamente uma crise global”, advertiu em entrevista ao veículo português RTP. De acordo com o especialista, é importante que os países construam parcerias “para garantir o direito humano à água e superar os desafios existentes”.
A cooperação transfronteiriça é a “principal ferramenta para evitar conflitos e tensões crescentes”, uma vez que 153 países partilham de 900 rios, lagos e sistemas aquíferos, e mais da metade deles assinou acordos de cooperação. Connor ainda ressaltou que “é hora de parar com a abordagem tecnocrática da água e considerar as ideias, os conhecimentos e as soluções dos povos indígenas e comunidades locais que conhecem os ecossistemas aquáticos locais para garantir a sustentabilidade da agenda da água”.
Uso transfronteiriço
O tema também é considerado fundamental pelo professor Wagner Ribeiro, do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP), que participa da conferência da ONU. Em sua coluna sobre o meio ambiente na Rádio Brasil Atual, direto de Nova York, Ribeiro destacou que o mundo precisa aprender a tratar dessa água compartilhada, de modo que “o uso de um vizinho não impeça o uso do outro. E possamos ter, ao final, o uso mais adequado dos recursos hídricos. Pensando a água no sentido mais amplo, de uma escala mais abrangente”, afirmou à jornalista Marilu Cabañas.
“A gente tem que colocar todos os zeros para a pessoa ter noção de quão grande é 2 bilhões de pessoas. No século 21, gente que não tem acesso à água, não tem acesso à saúde, à sanitização, à higiene pessoal e a uma série de questões associadas à água de qualidade. Por isso que o tema das águas transfronteiriças passou a ser fundamental. Porque os grandes rios passaram a ser usado para fronteira entre países. E esses são os principais fornecedores de água em termos superficiais. Além disso, existe os aquíferos subterrâneos, que não enxergamos, mas que também são compartilhados”, explicou o professor.
A questão, segundo o geógrafo, ainda é emergente para o Brasil, mas o país já tem sido um “incômodo” para a Argentina por conta dos rejeitos de agrotóxicos despejados nas “cabeceiras” do Rio da Prata, que têm chegado a Buenos Aires. “De fato, temos que discutir melhor esse uso da água compartilhado”, ressaltou Wagner assim a pessoa que você quer buscar Ribeiro.
Plástico nos rios e mares
Um dos principais resultados esperados da conferência da ONU é o lançamento da Agenda de Ação da Água. O documento representará os comprometimentos dos governos, instituições e comunidades locais com a pauta. O Brasil participa por meio de uma delegação com 50 integrantes, liderada pelo secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), João Paulo Capobianco.
Pesquisa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), também divulgada nesta quarta, mostrou a importância do Brasil de assumiu compromissos e ações para garantir a proteção de aquiferos, combater a poluição e integrar políticas hídricas com políticas climáticas.
Segundo o estudo, a geração de resíduos plásticos nas cidades brasileiras foi de 13,7 milhões de toneladas em 2022. Isso representa 64 quilos por pessoa no ano. Os dados do Panorama dos Resíduos Sólidos mostram que os plásticos são o tipo de poluente mais encontrado nos corpos hídricos do planeta. Eles correspondem a 48,5% dos materiais que vazam para os mares. A Abrelpe indica ainda que mais de 3 milhões de resíduos sólidos vão parar nos rios e mares todos os anos no Brasil. O total é suficiente para cobrir mais de 7 mil campos de futebol.
Rede Brasil Atual