Fica evidente aquela que deve ser uma das principais armas da oposição ao governo Lula no Congresso Nacional, os convites a ministros para comparecem a comissões.
Trata-se de uma estratégia que tem vários objetivos. O primeiro, buscar constranger participantes do governo com temas que dizem respeito à pauta bolsonarista. Basta ver os motivos que levaram à realização das audiências. O titular da Educação Camilo Santana foi chamado para falar sobre a política do governo relativa às escolas cívico-militares. Nísia Trindade, da Saúde, foi convidada por iniciativa de uma parlamentar que acusou o ministério de inserir “ideologia de gênero” nas relações de trabalho da saúde pública. Já Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, foi convidado para falar na Câmara dos Deputados a respeito de declarações sobre a descriminalização das drogas e a situação das pessoas que foram presas após os ataques golpistas de 8 de janeiro.
São os mesmos fantasmas que povoam o imaginário da extrema-direita e com os quais ela tenta mobilizar de forma permanente sua base. Mas nem tudo saiu como esperado, até pelo fato de o nível dos parlamentares em embates com ministros ser notadamente baixo.
Comissão de Segurança Pública é ponta de lança oposicionista
Composta por 34 titulares, sendo que 27 deles são ex-militares ou ex-policiais, ver as sessões da Comissão de Segurança Pública é uma atividade insalubre. Após bailar diante da oposição em sua fala na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (se você não lembra, confira aqui), o ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino foi ao colegiado na terça-feira (11).
Já escaldados pelo desempenho do ministro na outra comissão, os bolsonaristas vieram preparados. “Preparados” talvez seja um termo errado, já que vieram, na prática, prontos para melar o jogo. Como retrata matéria do Brasil de Fato, desde o início da sessão parlamentares trocavam ofensas, desrespeitavam a ordem e o tempo de falas e também interrompiam Dino, obrigado o deputado federal Ubiratan Sanderson (PL-RS) a encerrar a sessão antes da hora.
Nas redes sociais, obviamente os deputados da bancada da bala alegaram que o ministro teria abandonado a reunião, mas não foi o que aconteceu. Não só essa narrativa como também as falas editadas podem servir para que os parlamentares saiam bem na foto para seus nichos eleitorais, mas dificilmente vão além de sua própria bolha.
Um dia depois, Silvio Almeida foi à mesma comissão. Ouviu provocações, pediu dados, manteve a serenidade e argumentou mesmo quando tinha que responder a “não-argumentos”. Veja aqui como foi.
E vem mais...
Na quarta-feira (12), a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, presidida pela bolsonarista Bia Kicis (PL-DF), aprovou mais oito convites para ouvir ministros do governo Lula. Flávio Dino também deve comparecer, em 2 de maio, à Comissão de Segurança Pública do Senado. Enquanto isso, na China, o governo anunciou a assinatura de 15 acordos com a China. Mas isso é assunto para outra newsletter...
Por Glauco Faria