Olá, a semana foi boa para o governo, com sinais positivos na economia, aumento da popularidade, adversários com problemas e vitórias no Congresso. Mas ainda é cedo para comemorar.
Lula com o Papa Francisco: Brasil deixa o ostracismo internacional - VATICANO / AFP
Semana teve sinais positivos na economia e aumento da popularidade, mas ainda Ă© cedo para comemorar
É disso que o velho gosta. Lula está na Europa Ă vontade e com um sorriso no rosto. NĂŁo por menos, já que as notĂcias boas nĂŁo param de chegar: a economia vai se recuperando, o Brasil virou o principal destino dos investimentos estrangeiros e tudo isso sĂł fez aumentar a popularidade do presidente, inclusive entre os ex-eleitores de Bolsonaro, segundo a pesquisa Genial/Quaest. Mas nĂŁo Ă© sĂł o alĂvio na economia que anima. No Senado, Lula emplacou Cristiano Zanin no STF, uma candidatura da qual sempre foi o Ăşnico defensor. E na opiniĂŁo pĂşblica, lulistas e atĂ© bolsonaristas concordam que o governo nĂŁo deve ceder Ă s chantagens de Arthur Lira. É por isso tambĂ©m que Lula sorri. Afinal, o coronel alagoano começou a sentir o peso da fama depois que a PolĂcia Federal passou a investigar esquemas que envolvem seus aliados e encontrou mensagens que podem comprometĂŞ-lo, alĂ©m da acusação por sua ex-mulher de violĂŞncia sexual. Isso deu espaço para Lula recuperar a iniciativa, vetando parte das mudanças que o Congresso fez na organização dos ministĂ©rios, devolvendo os serviços de InteligĂŞncia para a Casa Civil e recuperando um pouco o desidratado ministĂ©rio coordenado por Marina Silva. Por via das dĂşvidas, para evitar qualquer retaliação de Lira, Lula liberou R$ 1 bilhĂŁo em emendas antes de viajar. O mais provável, daqui para frente, Ă© que prevaleça o clima de moderação que parece ser o novo consenso polĂtico depois de uma dĂ©cada de solavancos, ainda mais agora com sinais de melhoras, mesmo que tĂmidas, da economia. Os ânimos sĂł prometem continuar exaltados mesmo Ă© nas CPIs do 8 de janeiro e do MST, mas nesse caso Lula nĂŁo hesitará em apertar as mĂŁos de lĂderes da direita, como fez na Europa, quando necessário. Assim, sem poder ignorar o peso dos 347 parlamentares da bancada ruralista - atĂ© ontem bolsonaristas de carteirinha - o presidente deve aproveitar o lançamento do Plano Safra para fazer um afago ao agronegĂłcio.
Contagem regressiva. Lula tambĂ©m pode sorrir porque tirou o paĂs definitivamente do ostracismo internacional e conseguiu colocar em pauta sua prĂłpria agenda em viagem Ă Europa: combate Ă pobreza, preservação ambiental, e distanciamento em relação aos Estados Unidos. A viagem tambĂ©m foi importante para tentar destravar o acordo Mercosul-UniĂŁo Europeia, buscando ampliação do comĂ©rcio e aumento de investimentos no Brasil. Isso tudo reflete tambĂ©m a preocupação do governo em garantir que a economia nĂŁo tenha um voo de galinha, agora que os ventos parecem mais favoráveis. Internamente, o governo faz sua parte impulsionando a demanda ao estimular a indĂşstria automotiva e incentivar a construção civil com a ampliação do programa Minha Casa Minha Vida. Mas a coisa complica quando as medidas dependem de terceiros, como o Banco Central, que mais uma vez manteve intacta a taxa de juros, contrariando as expectativas atĂ© do seu melhor amigo, o mercado. A solução deve ser uma nova ofensiva de Lula para dobrar a teimosia de Campos Neto, agora com mais apoios e aliados do que antes. Enquanto isso, no Congresso, os projetos do governo tĂŞm avançado, ainda que rendam meses de DR e o risco da deformação no caminho. A boa vontade do Senado garantiu nĂŁo sĂł a aprovação do novo arcabouço fiscal, como o fez em condições melhores do que as aprovadas pela Câmara. Mas, ainda haverá um segundo round na Câmara, e o governo precisa tambĂ©m acelerar a tramitação da reforma tributária se quiser que o arcabouço fiscal fique de pĂ©. É que sem o aumento de receitas que Haddad espera vir da reforma tributária, a Ăşnica solução possĂvel seria o simples e impopular aumento de tributos a partir de agosto, medida que nem o governo nem o Congresso estariam dispostos a bancar.
Identidade (nada) secreta. Por enquanto, a CPI do 8 de Janeiro tem exibido apenas o clima de quinta sĂ©rie que se tornou a marca registrada do Congresso brasileiro, com parlamentares mais preocupados em “lacrar” e postar nas suas redes sociais. A lentidĂŁo da CPI surpreende considerando que a ComissĂŁo da Câmara Distrital de BrasĂlia, a PolĂcia Federal e os inquĂ©ritos do STF já produziram um volume extenso de documentação. O que se explica pelo fato de que o governo nunca teve interesse na CPI e a oposição sĂł queria usá-la para causar tumulto. O problema Ă© que as informações encontradas no celular de Mauro Cid entregam mais do que o já esperado plano de golpe. Aparecem tambĂ©m Augusto Heleno em um grupo de zap golpista, assim como a filha do general Villas BĂ´as, cuja mĂŁe já era presença certa na frente dos quartĂ©is, alĂ©m dos pedidos do coronel Jean Lawand, juntamente com outros 10 militares da ativa, para que Bolsonaro convocasse logo o golpe. Resta ainda saber quem era o interventor que os conspiradores pretendiam empossar: o prĂłprio Bolsonaro ou, seguindo a tradição de 1964, os militares diretamente sem intermediários? Fato Ă© que, nĂŁo sĂł 8 de janeiro tinha cheiro e gosto de golpe de Estado, como estava impregnado de militares. E Ă© aĂ - nos quartĂ©is - que mora o problema. Como lembra HĂ©lio Schwartsman, o governo Lula nĂŁo está nem um pouco interessado em quebrar os pratos com a caserna. Prova disso, Ă© o “deixa pra lá” do ministro JosĂ© MĂşcio, afirmando que “jamais saberemos quem era o responsável por 8 de janeiro”, e o retorno da segurança do presidente Lula para o inconfiável GSI, um claro sinal de pacificação. Por outro lado, Fernando Exman diz que “anistia Ă© coisa do passado” e os militares nĂŁo podem gozar da mesma impunidade que tiveram no fim da ditadura. É bastante provável que o desfecho para a aventura neofascista dos Ăşltimos anos seja a degola dos soldados rasos para salvar os generais. Em outras palavras, a expulsĂŁo de Mauro Cid das forças armadas, a prisĂŁo de Anderson Torres, alguns deputados cassados e a inelegibilidade de Bolsonaro.