Do ponto de vista ético, o combate à miséria é a grande questão, responde Renato Janine Ribeiro, não sem observar que a miséria é agravada pela corrupção
O que ocorre, diz Janine Ribeiro, é que existe uma tentativa de utilizar o argumento do combate à corrupção – tema ao qual o eleitorado brasileiro, assim como o dos países pobres, é muito sensível – como forma de desmoralizar quem tenta mudar a vida social. Segundo o colunista, o problema crucial “que nós temos, o nosso grande problema antiético, pode até ser agravado pela corrupção, e de fato é, mas o nosso grande problema é a miséria, é o fato de que temos multidões que não têm igualdade de oportunidades […] se nós não tivermos um ambiente social que favoreça a educação, que dê alimentação decente, que faça com que a pessoa não perca todo o seu tempo com transporte coletivo ruim e demorado, que ela resida num lugar que lhe permita uma saúde decente, a competição não é justa”.
De resto, Janine avalia que a sociedade capitalista é uma sociedade de competição. “Por isso mesmo, o capitalismo valoriza o mérito, o êxito na competição, mas, para a competição ser justa moralmente, as pessoas têm que ter regras iguais, mas têm que partir de um ponto de partida próximo ou semelhante, e elas têm, além do mais, que jogar por regras do jogo que valem para todos, que são dois pontos que faltam muito em nossa sociedade.” E conclui: “Do ponto de vista ético, mais do que do ponto de vista partidário ou mesmo político, nós temos que considerar que o combate à miséria é a grande questão, isso passa por políticas públicas que garantam a vitória sobre a fome, que garantam uma educação boa e saúde decente para todos, sem contar moradia e transporte”.
Ética e Política
A coluna Ética e Política, com o professor Renato Janine Ribeiro, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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