Pense na seguinte situação: torcedor do Ceará assistindo à final da Copa Sul-Americana entre Fortaleza e LDU. O dilema é claro: torcer pelo rival em nome do futebol cearense ou pelo time estrangeiro, para não sofrer com as gozações da torcida adversária?
Cada cabeça, uma sentença, mas a natureza dos dilemas está na escolha do que parece ser menos ruim. Assim, independentemente da decisão, o alvinegro não se transformou em torcedor da LDU e muito menos do Fortaleza. Foram apenas as circunstâncias.
Lembrei disso ao ver Ciro Gomes (PDT) e Carmelo Neto (PL) participarem de evento em apoio à reeleição do prefeito Glêdson Bezerra (Podemos), em Juazeiro do Norte. O principal oponente deles é Fernando Santana (PT).
É outro dilema: aceitar a companhia momentânea de um desafeto para derrotar um adversário em comum, ou lavar as mãos, beneficiando o petista? Como diz o famoso provérbio, os inimigos dos meus inimigos são meus amigos. O certo é que, ao final, nem Ciro será um bolsonarista, nem Carmelo um esquerdista. São, de novo, as circunstâncias.
É algo diferente da adesão interesseira, que troca apoio por cargos e verbas ou por apego ao poder, como é comum. É o caso de Valdemar Costa Neto (PL), o mensaleiro ex-aliado de Lula que agora é correligionário de Bolsonaro. E de Geraldo Alckmim (PSB), que acusava o PT de ser uma quadrilha e hoje é o vice-presidente de Lula.
No Ceará temos o PSD de Domingos Filho que, nas eleições de 2022, denunciava o PT e Camilo Santana de cooptarem prefeitos de forma ilícita, mas que em 2024 se aliou ao mesmo Camilo, deve garantir a vaga de vice na chapa de Evandro Leitão em Fortaleza.
Cito esses casos somente como amostras, mas o Centrão é uma vasta legião. Por essas e outras é importante não confundir alianças estratégicas, ainda que polêmicas e difíceis, com negociatas políticas ou projetos pessoais de poder, verdadeiramente escandalosos, mas que passam por aí como se fossem a coisa mais normal e coerente do mundo.
Wanderley Filho é colunista de política da Jangadeiro BandNews FM 101.7.