"Foi uma experiência digna do poeta florentino do século XIII que me veio à mente quando me vi em um verdadeiro Circo Romano"
Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate!
“Abandonai toda a esperança, vós que entrais!
Estas palavras estavam escritas em tom escuro, no alto de um portal. Eu, assustado, confidenciei ao meu guia:
- Mestre, estas palavras são muito duras.”
Com tais palavras, Dante Alighieri descreve em sua obra prima 'A Divina Comédia' sua chegada ao Portão dos infernos junto de seu guia Virgílio.
Li a Divina Comédia aos 10 anos. Era uma edição primorosa da biblioteca da mulher mais culta que conheci, minha mãe, advogada e socióloga fluente em sete idiomas. O livro tinha formato de tablóide, capa de couro entalhado e ilustrações de Gustave Doré.
Mais de meio século depois, a passagem pelos portões do Inferno de Dante Aligheri me volta à mente.
Carlos Bolsonaro comentou no X-Twitter artigo que escrevi propondo a dizimação da extrema-direita enquanto ideologia. Isso estava claríssimo já no primeiro parágrafo, mas o esquisitíssimo filho de Jair Bolsonaro confirmou-me a percepção de que, tal qual o pai, mantinha uma relação de medo e ódio com leituras.
Não leu nem o primeiro parágrafo do artigo e deu-se a comentar o título "É hora de dizimar a extrema-direita". Comentou na rede de Elon Musk, formatada para ser amistosa com o extremismo de direita e hostil ao progressismo – que, em tese, nada dedica aos festins satânicos de adoração à violência, ao ódio, ao preconceito, à estupidez do fascismo.
Carluxo tocou o apito de cachorro e abriu a porta do canil, apontando à matilha canina, que o serve com lealdade condizente, o alvo. Eis que uma horda de bem treinados bolsomínions passaram a latir e rosnar em direção àquele que o dono apontou.
Interessante que alguns latiam moralismo contra a ideia de dizimar alguma coisa, mesmo que fosse a ideologia infame de Adolf Hitler; outros latiam homofobia, achando que insultos dessa natureza me atingiriam mais do que uma ironia bem engendrada poderia.
E havia os ferozes fortões, instando-me a dizimá-los ao vivo e a cores - se "fosse" homem.
Foi uma experiência digna do poeta florentino do século XIII que me veio à mente quando me vi em um verdadeiro Circo Romano, frente a frente com uma multidão de lutadores empunhando seus gládios banhados de sangue e estupidez
Arrivederci, Carluxo. Non ti voglio più en la mia vita.
Eduardo Guimarães é responsável pelo Blog da Cidadania - 247